Roberval Pereyr
Do meu corpo claro do meu ser de chumbo
do meu sonho magro do meu torto mundo
do meu peito cego do meu tardo gozo
do meu lado crespo
(do meu asqueroso)
é que traço rotas calmas á ignota
praia em teu avesso onde calmo teço
(sob teus dilemas) cartas e poemas.
Cartas e poemas.
MEDIDAS
Na taça dos erros meu canto bebe.
Meu canto inverte a flor dos segredos.
Aos meus apelos a vida cede. A
vida me excede porque me excedo.
E porque a excedo.
PERCURSO
Os abismos me contemplam e desistem de mim.
Meu ser é o ponto morto dos abismos.
Já fui o deus dos peraus, o habitantes do Val abaixo dos peraus, no dificílimo.
Chego exausto a estas paragens para descansar por uma noite de prolongado pensar pelos declives.
LÍRICO
A golpes lentos, divago: antiga a paz que me guia.
Á sombra o rosto e o lago onde Narciso, o mirado, me desvia.
De onde venho, me mato.
E onde me acham, há dor.
Alguém apaga meus passos
(um mago?) com uma flor.
E os golpes, cadenciados, fundem o lago e o rosto á voz de um outro, sem lábios.
GALOPE
Meus pensamentos são meus camelos meus pensamentos são meus cavalos
(com uns cavalgo para o silêncio com outros marcho para a saudade).
Meus pensamentos são meus camelos meus pensamentos são meus cavalos
(sou sertanejo, nasci nos matos, ando a cavalo para mim mesmo).
Meus sentimentos são meus desejos em que me vejo perdido, e calo.
Meus pensamentos são meus camelos meus pensamentos são meus cavalos
APRENDIZ DE APRENDIZ
O mestre zen ouve o som
De uma só mão batendo palmas.
Eu nada ouço.
Mas espero com calma.
A INÚTIL LIÇÃO
Disseram que não sou eu,
Não contestei, consenti;
e que num tempo remoto fui o contrário de mim.
Mergulhado em meu avesso buscando saber quem sou
errei o meu endereço enquanto a vida passou.
TAO
Na diferença que há entre o que sou e o que