Richard Sennett Flexivel
Com base em sua definição de caráter: traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem (p.10), Sennett passa a questionar as relações de trabalho contemporâneo e suas implicações nos valores pessoais como a lealdade e os compromissos mútuos. Como definir nossos traços pessoais, nosso valor em uma sociedade onde tudo é efêmero, onde a flexibilidade, ou seja, o poder de se ajustar a qualquer meio é tido como valor? Não é possível construir um caráter em um capitalismo flexível, onde não há metas a longo prazo, pois a construção deste depende de valores duradouros, relações duradouras, de longo prazo, isto não é possível em uma sociedade onde as instituições vivem se desfazendo ou sendo continuamente reprojetadas.
Para discutir esta questão, Sennett recorre à várias fontes, como dados econômicos, narrativas históricas e teorias sociais como de Max Weber e Adam Smith e, ainda, à sua vida diária , seu método é como de um antropólogo, segundo o próprio autor. A obra é dividida em oito breves capítulos, onde se define o tempo capitalista, se compara o velho capitalismo e o novo, mostram-se as dificuldades de se compreender as novas relações de trabalho, o ataque do capitalismo ao caráter pessoal, a mudança ética do trabalho, os sentimentos despertos nos indivíduo como o fracasso, o desnorteamento, a depressão e, por fim, como lidar e viver neste meio? Há remédio para os males do trabalho? São as respostas para estas questões que Sennett procura nesta discussão.
No primeiro capítulo, Deriva, Sennett relata a história de duas gerações norte-americanas, Enrico e Rico, filho de Enrico. Este relato serve como comparação entre dois modelos de trabalhadores. O trabalhador fordista, burocratizado e rotinizado, que planeja sua vida e suas metas se baseando em um tempo linear, cumulativo e disciplinado, que constrói sua história e expectativas a partir de uma progressão de longo prazo. E o trabalhador flexibilizado do