Revista Brasileira De Psiquiatria
Print version ISSN 1516-4446
Rev. Bras. Psiquiatr. vol.26 no.3 São Paulo Sept. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462004000300018 CARTA AOS EDITORES Depressão e traços de personalidade em mulheres vítimas de violência doméstica
Patrícia Gugliotta Jacobucci; Mara Aparecida Alves Cabral
Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (SP)
Sr. Editor,
A violência doméstica contra a mulher, provocada pelo cônjuge, vem aumentando sensivelmente, sendo considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) um grave problema de saúde pública.1-2
De acordo com a Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), citada por Schritzmeyer,3 constatou-se que, no Brasil, a cada quatro minutos uma mulher é agredida em seu próprio lar por uma pessoa com quem mantém relação de afeto. As estatísticas disponíveis e os registros nas delegacias especializadas de crimes contra a mulher demonstram que 70% dos incidentes acontecem dentro de casa e que o agressor é o próprio marido ou companheiro.
Segundo Heise,4 a violência doméstica e o estupro são considerados a sexta causa de anos de vida perdidos por morte ou incapacidade física em mulheres de 15 a 44 anos – mais que todos os tipos de câncer, acidentes de trânsito e guerras. Sendo assim, é um tema que merece total atenção, porque, além de acarretar conseqüências emocionais aos filhos que testemunham a violência, compromete a economia do país – no que se refere a gastos com serviços de saúde –, assim como acarreta conseqüências psicofísicas à mulher.
As mulheres que relatam ter sofrido violência doméstica apresentam formas combinadas de agressões físicas, como nódoas negras, fraturas, queimaduras, marcas de tentativas de estrangulamento, golpes provocados por instrumentos cortantes, etc, e de agressões psicológicas que retratam como seqüelas medo, isolamento afetivo, dependência