Reunião de
Você acha que um dia a gente podia mandar colocar um espelho grande aqui na sala? — perguntei a meu marido antes de sair, remexendo na bolsa para conferir se pusera tudo ali, dinheiro, passagem de ônibus. Minhas mãos estavam frias. — Espelho grande? Para quê? — Ele me encarou por cima dos óculos, baixou o jornal. Logo ia dormir a sesta, apenas esperava que eu saísse. Era tarde de sábado. Parecia admirado; acho que nunca me vira ter idéias extravagantes, devia considerar aquilo uma extravagância. — Nada — respondi, já arrependida. — Foi só bobagem minha, uma vez li que dá impressão de mais espaço. A sala é pequena... — A sala é ótima assim. — Ele voltou a ler, ajeitou o jornal. — Claro. Claro. Você tem razão... Quando fui me aproximando da porta, ele se levantou, me beijou na face, pediu que me cuidasse direito. Descendo os degraus da frente, ouvi-o fechar a porta. Então lembrei que esquecera de colocar perfume; mas não valia a pena voltar só por causa disso. Agora estou quase chegando. A viagem de ônibus foi curta, não tive dificuldade em encontrar um táxi que me trouxesse da estação até a casa de meu pai. Fiquei um pouco atrapalhada, porque quase nunca viajo.
Remexo a bolsa, atulhada de coisas, não encontro aquele espelhinho que um dia pus aí dentro. Pa ciência. Devo estar com a cara de sempre. Olhando no espelho do meu quarto, esta manhã, pensei que era