Resumo
ESCALANDO O ABISMO por Vilma Laudelino de Souza
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ESCALANDO O ABISMO - Vilma Laudelino de Souza
I
30 de setembro de 1969. Eram 23:30 aproximadamente quando terminei de escrever o último bilhete para as pessoas que mais estimava. Aquela seria a minha última noite; ao amanhecer, eu saltaria de um viaduto, sobre a via férrea, no momento em que o trem se aproximasse. Acertei o despertador e recostei-me na cama, mas estava muito deprimida e não queria dormir; precisava fazer uma retrospectiva de minha vida. Aos vinte e dois anos, sentia-me como se fosse uma anciã. Já não tinha razão para seguir. Vivi tanto e tantas experiências amargas... Com 15 anos de idade, tentei o suicídio tomando comprimidos. Anos depois, cortei os pulsos, mas a morte não veio. Devido à minha maldade, até ela parecia me rejeitar. Desta vez, porém, não haveria jeito. Meu coração amargurado questionava-se: “Para que serve a vida? Será que o homem nasce apenas para morrer? Ou após a morte ele voltaria em outras reencarnações e com características diferentes? Mas se não vale a pena viver o dia seguinte, para que voltar?... Somente para sofrer a fazer sofrer?” Vida, existência... Como eram amargas para mim estas palavras. Vazias. Comecei a recordar o decorrer de minha vida. Cedo conheci o lado mal do mundo. Era fruto de um lar onde meus pais lutavam com dificuldades para alimentar seis filhos. Amor? Não havia tempo. Minha irmã cuidava dos irmãos como podia, enquanto minha mãe trabalhava, lavando roupas para várias famílias, semana após semana. Vivíamos num bairro rico da cidade do Rio de Janeiro, mas morávamos num parque proletário. A luta contra os fatores negativos era constante. Desnível social, racial e cultural causavam atritos entre nós e as outras crianças, na maioria filhos de homens com grande influência na sociedade. Estudei catecismo e aprendi algo sobre Deus. Mas Ele estava muito distante de minha realidade. Ensinaram-me que Deus