Resumo
O trabalho do antropólogo de Roberto Cardoso de Oliveira * O Olhar
A primeira experiência do pesquisador de campo é a domesticação teórica de seu olhar, porque o objeto já foi previamente alterado pelo próprio modo de vizualizá-lo. Ele não escapa de ser apreendido pelo esquema conceitual da diciplina formadora de nossa maneira de ver a realidade. Esse esquema conceitual funciona como uma espécie de prisma por meio do qual a realidade observada sofre um processo de refração. É certamente no olhar que essa refração pode ser bem mais compreendida. Imagine um antropólogo no inicio de uma pesquisa junto a um determinado grupo indígena e entrando em uma maloca com muitos indivíduos sem nem mesmo conhecer uma palavra do idioma nativo, eles teriam o seu interior imediatamente vasculhado pelo ‘’olhar etnográfico’’, por meio do qual toda a teoria que a disciplina dispõe relativamente às residesências indígenas passaria a ser instrumentalizada pelo pesquisador, isto é, referida. Esse interior não seria visto com ingenuidade mas com um olhar devidamente sensibilizado pela teoria disponível. Ao basear-se nessa teoria, o observador bem preparado iria olhá-la como objeto de investigação previamente construído por ele, Passará, então, a contar os fogos, cujos resíduos de cinza e carvão irão indicar que em torno de cada um estiveram reunidos não apenas indivíduos mas seres sociais e membros de um único grupo doméstico – O que lhe dá informação suficiente que nessa maloca estaria abrigada uma certa porção de grupos domésticos com uma ou mais famílias elementares e indivíduos agregados. Saberá o número total de moradores contando as redes dependuradas nos mourões da maloca dos membros de cada grupo doméstico tanto quanto as características arquitetônicas da maloca, classificando-a segundo uma tipologia de alcance planetário sobre estilos de residências. Para esse etnólogo moderno, já tendo ao seu alcance uma documentação histórica, concluiu-se