Resumo: O Auto da Barca do Inferno (Pesquisa)
A sua crítica tem, pois, uma função moralizadora que, nesta peça, é facilmente detectada pelas réplicas contundentes do Anjo.
Gil Vicente fará alvos da sua crítica os poderosos, os materialistas e os corruptos. No entanto, em Gil Vicente não há só perversos. Nele encontramos também aqueles que não usam de malícia nos seus atos e falas como é o caso do Parvo e o caso dos Quatro Cavaleiros que são merecedores da paz eterna porque morreram nas cruzadas em defesa do Cristianismo.
Passando, agora, para um plano mais específico não podemos deixar de referir que a sátira vicentina abrange três classes sociais: Clero, Nobreza e Povo. As personagens criadas por Mestre Gil constituem tipos - sociais. O tipo mais frequentemente satirizado é o que representa o Clero da época. No «Auto da Barca do Inferno» este é corporizado na figura do Frade que aparecerá no cais acompanhado da sua moça Florença. Este frade canta e dança, dá lição de esgrima e acredita na sua salvação. De salientar que a Igreja como Instituição nunca foi atacada pelo nosso Mestre, mas as circunstâncias eram-no: a vida dissoluta que alguns levavam, a sedução pelo «metal luzente» e o facto de pensarem que a condição de sacerdotes os salvava. A Nobreza apresenta-se decadente e ignorante. Os Fidalgos, embora «bem falantes», como é o caso de Anrique eram pobres de espírito, soberbos e autoritários. Gil Vicente criticava esta classe de forma acintosa porque o revoltava o facto destes tratarem os mais humildes de modo despótico.
Outros exploradores das camadas populares também foram criticados de maneira colossal: o Corregedor, o Procurador e o Onzeneiro que corporizam uma sociedade corrupta e materialista, em que reina a ganância, o suborno e a rapina com que os exploradores enchem os seus próprios bolsos.
Os artesãos também não escapam ao olho