RESUMO A ORDEM DO DISCURSO
De qualquer modo, excluída ou secretamente investida pela razão, no sen- tido restrito, ela não existia. Era através de suas palavras que se reconhecia a loucura do louco; elas eram o lugar onde se exercia a separação; mas não eram nunca recolhidas nem escutadas.
Todo este imenso discurso do louco retomava ao ruído; a palavra só lhe era dada simbolica- mente, no teatro onde ele se apresentava, desarmado e reconciliado, visto que represen- tava aí o papel de verdade mascarada. o discurso verdadeiro pelo qual se tinha res- peito e terror, aquele ao qual era preciso submeter-se, porque ele reinava, era o dis- curso pronunciado por quem de direito e conforme o ritual requerido; era o discurso que pronunciava a justiça e atribuía a cada qual sua parte; era o discurso que, profeti- zando o futuro, não somente anunciava o que ia se passar, mas contribuía para a sua realização, suscitava a adesão dos homens e se tramava assim com o destino. Ora, eis que um século mais tarde, a verdade a mais elevada já não residia mais no que era o discurso, ou no que ele fazia, mas residia no que ele dizia: chegou um dia em que a verdade se deslocou do ato ritualizado, efi- caz e justo, de enunciação, para o próprio enunciado: para seu sentido, sua forma, seu objeto, sua relação a sua referência. o discurso verdadeiro não é