Resumo sobre alfabetização e cidadania
SOARES,M. Alfabetização e Cidadania. 5° ed. São Paulo: Contexto, 2008.
O termo cidadania tem frequentado intensamente o discurso político e acadêmico a partir dos anos 80, associando-se aos mais diversos fenômenos sociais: saúde e cidadania, habitação e cidadania, ecologia e cidadania, educação e cidadania, escola e cidadania... A relação entre alfabetização e cidadania pode ser analisada sob duas perspectivas, aparentemente contraditórias: de um lado, é preciso negar, de outro, é preciso afirmar a vinculação entre o exercício da cidadania e o acesso à leitura e à escrita. A vinculação entre alfabetização e cidadania faz parte do senso comum: a concepção corrente é que só quem sabe ler e escrever é capaz de agir politicamente, de participar, de ser livre, responsável, consciente de ser homem histórico e político: de ser cidadão. Inicialmente, na primeira parte da negação: a alfabetização não é imprescindível ao exercício da cidadania.
A ênfase excessiva posta na alfabetização como fator determinante do exercício da cidadania e, correspondentemente, no analfabetismo ou no precário acesso à leitura e à escrita como causas da exclusão da cidadania oculta as causas mais profundas dessas exclusão, que são as condições matérias de existência a que submetidos os ‘’excluídos’’, as estruturas privatizantes do poder, os mecanismos de alienação e de opressão, tudo isso resultando na distribuição diferenciada de direitos sociais, civis e políticos às diversas classes e categorias sociais. Basta que se considere a co-ocorrência de indicadores de exclusão: altas taxas de analfabetismo e outros indicadores educacionais (taxa de repetência, de evasão, de exclusão da escola etc.) ocorrem ao lado de baixas faixas salariais, maiores índices de subnutrição, de mortalidade, de expectativa de vida etc.
Ao pensarmos em alfabetização e cidadania, é preciso fugir a uma interpretação linear desses dois termos, atribuindo-lhes uma relação de causas-consequência, em que a