Resumo shakespeare maquiavel
MIGUEL CHAIA
OR QUE RETOMAR Shakespeare e Maquiavel numa época em que a política opera fundamentalmente a partir de uma macroabordagem, com destaque para os sistemas políticos e as ideologias, e quando as preocupações estão voltadas para o funcionamento das instituições, a conquista da cidadania e o controle das massas? Esses dois autores indicam rumos para a resposta: Maquiavel, na dedicatoria de O príncipe a Lorenzo de Medici, afirmando que o livro não quer outra coisa que o valorize "a não ser a variedade da matéria e a gravidade do assunto a tornarem-no agradável"; e Shakespeare, ao alertar em Hamlet, que "o tempo está fora dos eixos" ensinam que a política caracteriza-se pela gravidade e pela disjunção. Maquiavel e Shakespeare projetam o saber histórico e o artístico sobre o campo do pensamento político, desorganizando-o e marcando aí o momento da instauração da modernidade. Neste sentido, eles demonstram que o espaço da política contém desafios e tensões constantes para todos os homens em qualquer época, superando antigas concepções que imprimiam estabilidade ou coerência à política. Um olhar mais demorado e mais exigente deve "ver a ciência com a óptica do artista, mas a arte, com a da vida" (Nietzsche, 1992:15). Nos textos destes dois autores, que produzem sob inspirações específicas e em épocas diferentes, encontramos um ordenamento de mundo fundado na política (das 27 peças de Shakespeare, 22 tratam de temas políticos, a maioria de forma direta; mesmo as obras literárias de Maquiavel abordam indiretamente a política). Eles entendem que as diferentes formas de exercício do poder dão significados distintos à vida dos indivíduos, à história de uma cidade ou ao destino de um povo. Abrem espaços inusitados para se observar os homens e suas práticas a partir do plano político sem, no entanto, condicioná-las a uma única causa. A seguir, são apresentados alguns supostos que serão aprofundados na última parte