Resumo estamira
Lixo. Não é assim que gosta de se referir ao aterro, um lugar insólito e insalubre, onde crianças e adultos disputam restos de comida com urubus, cavalos e cachorros. “É um depósito dos restos; às vezes é só resto e às vezes vem também o descuido. Resto e descuido (...) quem economiza tem (...) ficar sem é muito ruim.”
Sua história de depressão e indignidade é capaz de incomodar. Aos 12 anos, foi estuprada por seu avô materno que a deixou em um prostíbulo onde conheceu um homem que a levou para casa. “Ele era mulherengo.” Casada pela segunda vez, com um italiano, protagonizou uma história de agressões e humilhação. “Esse também era mulherengo.” Uma briga travada por troca de ameaças pôs fim a mais um casamento. Chegou a morar na rua. Sua filha menor, adotada por outra família, a ajudava a esmolar. “É triste, muito triste.”
A lembrança do sofrimento que sua mãe carregara, é ferida na alma de Estamira. Carrega na memória, talvez a fase mais lúcida de sua vida: o clamor de sua mãe quando internada no Hospital Psiquiátrico Pedro II, em Engenho de Dentro – “Estanira (era assim que se referia à sua filha Estamira), me tira daqui, Estanira!”
“Eu posso revelar quem é Deus.”
Em sua vontade de ser vista e ouvida, Estamira repete que veio ao mundo para “revelar a verdade”. Em seu discurso, através de metáforas, evidencia sua revolta e sua descrença em Deus. Ela o define de “poderoso ao contrário” e se julga mais sábia que Ele. “Que Deus é esse? Que Deus é esse que só fala de guerra e não sei o quê? Não é Ele que o