RESUMO - ESAÚ E JACÓ
Esaú e Jacó e Memorial de Aires (1908) são os dois últimos romance de Machado de Assis que apresentam uma personagem comum: o conselheiro Aires, velho diplomata aposentado. Segundo a “Advertência” colocada na abertura de Esaú e Jacó, foram encontrados sete cadernos manuscritos entre os papéis do conselheiro após o seu falecimento. Os seis primeiros correspondiam ao Memorial que o conselheiro Aires vinha escrevendo; o sétimo continha o texto de Esaú e Jacó, que se destinou à publicação em primeiro lugar. Esaú e Jacó é um romance complexo, aberto a múltiplas interpretações. É o romance machadiano que melhor documenta a época em que se passa ação, apresentando pormenores do cotidiano afetado pela proclamação da República – fato que levou muita gente a considerálo um romance histórico. Quando cronista da vida parlamentar, Machado de Assis sempre mostrava que os liberais e os conservadores usavam esses rótulos de acordo com suas conveniências, e que a diferença era estar ou não no poder. Toda a ficção do autor envolve isso também, mas, principalmente, em Esaú e Jacó.
1. ENREDO
O título desse romance remete o leitor às personagens bíblicas do Gênesis, Esaú e Jacó, filhos gêmeos de Isaac e Rebeca. Inimigos desde o ventre materno, Esaú, que tinha nascido primeiro, vende seus direitos de primogênito a Jacó, em troca de um prato de lentilhas. Rebeca privilegia o filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, fazendoos inimigos. A inimizade dos gêmeos Pedro e Paulo não tem causa explícita, daí a denominação de romance “ab ovo”: desde o ovo, desde a origem, desde a origem, desde o começo. Pedro e Paulo, os protagonistas, são gêmeos univitelinos, “tão iguais, que antes pareciam a sombra um dos outro, se não era simplesmente a impressão do olho, que via dobrado”. Como o título sugere, eles também são inimigos. A mãe deles, que tem o sugestivo nome de Natividade, engravidara, acidentalmente, com cerca de