Resumo do texto “As Ironias de Fernando Pessoa.”
Fernando Pessoa constitui um caso bastante enigmático dentro da Literatura Portuguesa. Os aspectos mais surpreendentes desse enigma não derivam de sua biografia. É possível afirmar que os fatos da biografia de Fernando pessoa são pertencentes ao domínio público. Sabe-se de vários fatos, desde o local de seu nascimento, até os acontecimentos e hábitos que marcaram a vida do poeta. Os artigos, ensaios, palestras, estudos e teses sobre Fernando Pessoa já faziam parte de uma enorme bibliografia, e, a partir de 1985, houve uma amplificação que parece nunca parar. Não é certo que tenha sido lançada uma luz sobre o enigma, mas cada nova leitura não faz nada mais que acrescentar novos enigmas ao que sempre foi enigmático. O enigma de Pessoa é resultado de um simples fato: sua biografia é a sua obra. Não se tem paralelismo ou comparação convincentes o suficiente entre a vida rotineira do cidadão chamado de Pessoa e a conflitualidade que é por vezes chamada vulgarmente de heteronímia. No caso de Pessoa, nem a perda de um ente querido, nem um namoro infeliz ou outros tantos acontecimentos nos dão uma chave para o fato de um poeta ter sido, antes de qualquer coisa, um ser de ficção entre outros seres também ficcionais, os quais questionam incansavelmente um “eu” que se lhe afigurava instável e em pedaços, e isto a ponto de fazê-lo duvidar da realidade de si mesmo. Em sua carta a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa diz que desde criança ele tinha a tendência de criar ao redor de si mesmo um mundo fictício, cercando-se de amigos e conhecidos que, na verdade, nunca existiram. Logo após esse trecho da carta, Pessoa se retrai e diz não saber se eles realmente existiram, ou se ele é que nunca existira, e que nesses tipos de coisas não deveria haver dogmatismo. Daí já é possível salientar o caráter irônico de seu antidogmatismo, onde ele contesta o tom categórico com que tinha afirmado a existência de suas criaturas, mas apressa-se