Resumo do livro CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira
Em seu texto José Murilo Carvalho menciona que os progressos feitos são inegáveis, mas foram lentos e não ocultam o longo caminho que ainda falta percorrer, não consegue esconder o drama dos milhões de pobres. Não há indícios de saudosismo em relação à ditadura militar, mas perdeu-se a confiança de que a democracia política resolveria com rapidez os problemas da pobreza e da desigualdade. Seria tolo achar que só há uma passagem para a cidadania. A história mostra que na é assim. Mas é razoável supor que caminhos diferentes aparentem o produto final, afetem o tipo de cidadão, e, portanto, de democracia que se determina. Existem conseqüências, sobretudo para o problema da eficácia da democracia, uma conseqüência importante é a excessiva valorização do Poder Executivo. O governo aparece como a província mais importante do poder, aquele do qual vale a pena aproximar-se. Essa orientação para o Executivo reforça extensa tradição portuguesa, ou ibérica, patrimonialista. O Estado é sucessivamente visto como o todo poderoso, na pior hipótese como repressor e cobrador de impostos, na melhor, como um distribuidor e cobrador de empregos e valores. A contrapartida da valorização do Executivo é a desvalorização do Legislativo e de seus titulares, deputados e senadores. Além da cultura política estadista, ou governista a inversão beneficiou também uma visão corporativista dos interesses coletivos. Os benefícios sociais não eram tratados como direitos de todos, mas como fruto da negociação de cada categoria com o governo. Na área que nos interessa mais de perto, o corporativismo é particularmente forte na luta de juízes e promotores. A ausência de vasta organização autônoma da sociedade faz com que os interesses corporativos consigam predominar. A representação política não funciona para resolver os