Resumo do artigo: O SEQUESTRO DA FALA COMUNITÁRIA
No Brasil, toda semana a Polícia Federal, certamente sob pressão de forças nem um pouco ocultas, invade uma rádio comunitária, apesar das públicas recomendações em contrário feitas pelo Ministro das Comunicações, Miro Teixeira, e pelo Grupo de Trabalho instituído para avaliar a legitimidade dessas atividades. Esse tipo de procedimento não é raro quando é apoiado por armas pesadas, e pode mesmo ocorrer que os responsáveis saiam dali algemados para a prisão.
Existem hoje cerca de 20 mil rádios comunitárias em todo o país, e tudo isso ocorre para impedir a concorrência com as rádios comerciais, concentradas na maioria das capitais, das quais a rádio comunitária tira a audiência. Cerca de dois milhões de ouvintes compõem as audiências AM e FM de rádios comerciais. Um terço dessa audiência ouve, as vezes, rádios comunitárias, o que acaba fazendo baixar os índices comerciais e, conseqüentemente, reduzir o lucro publicitário.
Uma rádio comunitária não pode ter fins lucrativos, o que termina impedindo a sobrevivência da atividade. O movimento das rádios não é recente no Brasil nem na América Latina, e seu surgimento desde o inicio das anos 70 sempre esteve ligado ao desejo de mudança social. E são os que reconhecidamente falam mais próximos as comunidades.
O fenômeno comunitário
A produção comunitária parte de um pressuposto político, seja ele um movimento com contornos marcados pela ecologia, seja com viés educacional, de resgate da memória de uma determinada população, seja cultural, enfim o imperativo de produção de um veículo parte de um conjunto de demandas sociais.
Consolida-se aos poucos entre os ativistas da comunidade o consenso no sentido de que a produção de discursos, a criação de narrativas e montagem de mensagens funcionais engendra um lugar político. Pode-se inferir que a presença social dos veículos de comunicação comunitária atesta o reconhecimento