resumo de pacientes e passageiros
1857 palavras
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As semelhanças entre as esperas Relata-se que quando frei Damião se internou pela última vez, circulou em Recife o boletim O Damiânico, onde foram listadas algumas gafes cometidas por jornalistas ao informarem sobre o estado de saúde do frei. Eis algumas delas: "A situação de frei Damião é grave, mas ele passa bem"; "Frei Damião está em morte vegetativa"; "Frei Damião permanece em como artificial"; "Caso piore, frei Damião vai entrar em tubulação". Além do aspecto desastrado destas frases, é assustador o fato deles não conhecerem a forma com que funcionam as tecnologias empregadas nos hospitais, mas tudo pelo fato de que fora dos círculos médicos não há muita informação sobre a rotina e os pacientes ligados a máquinas dentro dos hospitais. Toda e qualquer situação parecida ao coma de frei Damião desafia padrões éticos e questiona o vocabulário do dia-a-dia. Faltam palavras, critérios, entendimento, formas de expressão para nomear, capaz de dar conta disto que se assemelha a um terceiro tipo de vida garantido pelas tecnologias hospitalares, e para designar esta existência na qual o indivíduo repousa sobre um não lugar, entre a vida e a morte. Graças ao desenvolvimento das últimas gerações a possibilidade de “ficar” entre a vida e a morte ganhou uma duração antes inusitada. O espaço entre elas aumentou, chegando às vezes a criar uma situação constrangedora a amigos e familiares dos pacientes internados, pois acabam passando por um terceiro estado entre estar de luto e comemorar uma possível volta do paciente. Em vários locais do mundo a decoração e arquitetura dos hospitais se tornaram semelhantes às de hotéis, aeroportos e shopping centers. Com a finalidade de tornar o ambiente mais agradável aos pacientes e acompanhantes, locais como jardins artificiais, salas de TV, cabeleireiro, lanchonete, salas de esperas com jornais e revistas e decorações como pisos coloridos e quadros. Na medida em que a cura deixou de ser aceita como