Resuminho
inaceitáveis de mentiras aceitáveis, não estamos apenas nos referindo ao
conhecimento ou desconhecimento da realidade, mas também ao caráter da
pessoa, à sua moral. Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque possuem
vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos que a vontade é livre para o
bem ou para o mal.
Ao dizermos que alguém “é legal” porque tem os mesmos gostos, as mesmas
idéias, respeita ou despreza as mesmas coisas que nós e tem atitudes, hábitos e
costumes muito parecidos com os nossos, estamos, silenciosamente, acreditando
que a vida com as outras pessoas - família, amigos, escola, trabalho, sociedade,
política - nos faz semelhantes ou diferentes em decorrência de normas e valores
morais, políticos, religiosos e artísticos, regras de conduta, finalidades de vida.
Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da
aceitação tácita de evidências que nunca questionamos porque nos parecem
naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na
quantidade, na verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre
verdade e mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a
subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.
Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por
que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas
crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica.
Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?” poderia ser: A
decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as
situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais
aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.