Resgate da fauna: uma falácia
Hidrelétricas, Ecologia Comportamental,
Resgate de Fauna: uma Falácia1
Marcos Rodrigues, Dr2
• Laboratório de Ornitologia, Departamento de Zoologia, ICB, Universidade Federal de Minas Gerais
RESUMO
O resgate de fauna é um procedimento amplamente utilizado no Brasil durante o enchimento dos reservatórios de usinas hidrelétricas. Apesar de largamente divulgado pela mídia e aceito pela maioria dos leigos como uma “boa ação” de conservação da natureza, poucos estudos avaliaram o real impacto dessa translocação de fauna. O meu objetivo aqui é mostrar que tal procedimento é inadequado, pois desestabiliza ecologicamente ainda mais as áreas adjacentes onde os animais são liberados. A maioria das espécies resgatadas é de vertebrados tetrápodas. Muitos desses animais são soltos em áreas vizinhas à represa, em hábitats semelhantes, onde não haverá o alagamento.
Neste artigo, pretendo abordar apenas um aspecto da vida desses animais resgatados, que não é levado em conta em tais empreitadas, que é a territorialidade. O estudo da territorialidade pode ser dividido em três categorias: (1) a evolução e a função da territorialidade; (2) os mecanismos de manutenção do território; e (3) as conseqüências desse comportamento para a regulação da população. São apresentados dois modelos teóricos e testes empíricos destas três categorias acima.
A partir disso, pode-se concluir que o destino da maioria dos indivíduos resgatados e transportados a hábitats não familiares a eles é a morte. E, para aqueles poucos que conseguem sobreviver, a conseqüência é a desestabilização ecológica da vizinhança. Os projetos de resgate de fauna, então, não passam de uma falácia ou uma medida não científica para amenizar, perante a opinião pública, o impacto ecológico do enchimento de uma represa. Uma das sugestões é que todos os animais apreendidos em projetos de resgate de fauna sejam coletados e depositados