RESENHA
O filho eterno, de Cristovão Tezza, romance de uma crueldade produtiva, se afigura como uma brilhante reflexão sobre a necessidade e a importância da ação do tempo para operar o ciclo do amadurecimento. A narrativa de O filho eterno inicia sob o signo da construção, melhor dizendo, de duas construções: do pai-narrador-escritor e do filho-personagem-narrado. Há uma partogênese significativa envolvendo o nascimento e criação do filho e deslocando-se para o nascimento do escritor e o ato da escritura. As marcas vitais conjugam-se nas palavras do próprio autor: “romance brutalmente autobiográfico”. A despeito das dificuldades romanescas atribuídas ao gênero autobiográfico, o livro furta-se ao mero assédio confessionalista porque o autor experiente e exigente quanto às técnicas literárias soube optar pela utilização de um ponto de vista revelador. Narrando em 3ª pessoa, ao invés da 1ª pessoa do singular, Tezza – com esse hábil expediente de foco narrativo forjou uma nova indumentária para o romance autobiográfico e, muito embora os poros da vida