resenha
Cap 1: A ética da conveniência
Em uma conversa é impossível abordar o tema da corrupção sem atrelar a ele a questão do relativismo moral, da ética da conveniência – “ se é bom pra mim, tudo bem. ” Em uma corrida de cross-country, o queniano Abel Mutai estava a poucos metros de distância da linha de chegada. Porém, meio confuso com a sinalização, ele parou de correr para posar para fotos, pensando que já havia completado a prova. Atrás dele vinha o espanhol Iván Fernandez Anaya. Em vez de passar o queniano distraído e completar a prova em primeiro lugar, o espanhol tentou avisar ao queniano que a prova ainda não tinha sido concluída. O espanhol então o empurrou em direção a vitória. Após a corrida o espanhol foi indagado por um jornalista sobre o por quê dele ter feito isso, ao invés de ele mesmo ganhar. Por que ele deixou o queniano ganhar? Ele respondeu que ele não deixou o queniano ganhar. O queniano ia ganhar de qualquer jeito. Se ele passasse pelo queniano e terminasse a prova em primeiro lugar, qual seria o mérito da sua vitória? Nenhum. Mas num ato incrível de fair play ele empurrou o queniano em direção a linha de chegada e ficou em segundo. O espanhol ainda acrescentou: “ Se eu ganhasse desse jeito, o que eu ia falar para minha mãe? “ O espanhol se sentiria envergonhado de ganhar a prova daquela maneira, então, sem nem pensar duas vezes, ele decidiu dar a vitória para o queniano, que já ganharia a prova de qualquer maneira se não tivesse se distraído. Dificilmente alguém faria isso. Teria tamanha ética. Muitas vezes, a lógica do resultado, da meta e do sucesso acaba se impondo de tal forma que os procedimentos e a maneira de atingir um objetivo acabam sendo sucateados e colocados como uma questão menor. No caso do espanhol ele ficou com medo, ou com vergonha de envergonhar a mãe. Se houvesse mais afetos e mais preocupações em não envergonhar pessoas que nos querem