resenha

Que a revolução russa foi um dos eventos mais importantes do século XX é inegável. Ela alterou o curso de duas Guerras Mundiais, serviu de modelo para outras revoluções, além de ter culminado no stalinismo e na Guerra Fria. Por mais que as consequências tenham sido desastrosas, os motivos originais eram nobres: criar um mundo onde todos seriam iguais, eliminando assim a exploração entre as classes e instaurando uma democracia verdadeira. O problema é que isso acabou se perdendo, e das mãos dos sovietes (associações regionais de trabalhadores) o poder foi para as mãos de indivíduos. Em Dez dias que abalaram o mundo o jornalista norte-americano John Reed narra, de uma perspectiva privilegiada, os acontecimentos que antecederam e sucederam as primeiras semanas da Revolução Bolchevique. Começava novembro de 1917 e já se derrubara o Tsar e estabelecera-se um governo provisório, mas o poder encontrava-se nas mãos dos burgueses; o país continuava na Guerra e, para os mais pobres, pouco mudara. Após dois capítulos que explicam o que aconteceu até então, Reed inicia a contar o que realmente viu, a partir das primeiras pressões dos bolcheviques, que se recusavam a admitir qualquer atitude conciliatória com a burguesia. O país parecia sem saber que rumo seguir. As divisões partidárias eram tantas que existia até mesmo um grupo intitulado “socialistas revolucionários de direita”. Reed explica detalhadamente as facções políticas e apresenta os vários personagens envolvidos, antes de iniciar os relatos. Seguem-se uma série de desentendimentos entre os diversos partidos, novas revoluções e contrarrevoluções. O poder muda constantemente de dono, jornais são censurados e liberados, sindicatos e outras organizações escolhem quem apoiar. Dez dias que abalaram o mundo esclarece muita coisa que aconteceu durante a Revolução Russa. Pode ser visto ainda como um manual de jornalismo. Reed não se contenta apenas com o que ouve os outros falarem.