Resenha
. Graciliano Ramos VIDAS ETERNAMENTE SECAS
Requitica Raquítica, pálida e doente fica a pobre criatura e a boca da sepultura vai engolindo o inocente.
Meu Jesus! Meu Pai Clemente, que da humanidade é dono, desça de seu alto trono, da sua corte celeste e venha ver seu Nordeste como ele está no abandono.
Patativa do Assaré
Árido, seco, hostil, áspero. Ler a obra de Graciliano Ramos é como tocar na terra do sertão nordestino e sentir integralmente a dureza e a agressividade num lugar onde o destino é condicionado por um sol que brilha como se existisse unicamente para castigar seus habitantes. É como apalpar e vivenciar um ambiente onde qualquer possibilidade de sonho e vida secam.
Obras obras mais valiosas e expressivas da Literatura Brasileira, se conjuntura no cenário literário do Modernismo: a “Geração de 30”. Inserido num contexto regionalista, a obra expõe, com maestria, os crudelíssimos problemas da seca do sertão nordestino e da opressão social vivenciada pelos retirantes. O livro exibe de modo abrupto e inquietante a história da degradada família composta por Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais novo, Menino mais velho e pela cachorra Baleia. Flagelados, miseráveis, famintos e raquíticos, possuem uma vida mais que “dura”: é uma subvida nordestina.
A caatinga e a seca, obrigatoriamente, fomentam-lhes comportamentos nômades na busca incessante por sobrevivência. Por conseguinte, esse anseio torna-se um ciclo, no qual há sempre um recomeço, e, sem destino, só lhes resta a opção de retirada. Logo, o romance adquire dimensão praticamente épica, ao problematizar de modo lúcido, a flagrante realidade das exasperantes e perenes condições de sobrevivência no sertão, definida concretamente pela viagem sem rumo da família dos desprovidos ao extremo. Reproduz, metonimicamente, por meio do relato dos “sem destino”, o drama, que no Brasil, geralmente ultraja multidões de errantes em busca de uma vida melhor.
As misérias