Resenha o que é justiça

MICHAEL SANDEL: Quando as coisas iam bem, as instituições financeiras tinham ganhos enormes. Mas quando seu comportamento inconsequente provocou a crise financeira, os contribuintes tiveram que bancar o socorro a elas. Os lucros foram privatizados e os prejuízos, socializados. A injustiça está no coração do ultraje moral. Para piorar a situação, o governo não fez muitas exigências em troca do socorro financeiro. Acredito que o público teria reagido de forma diferente se as instituições beneficiadas fossem mais instadas a prestar contas. Mas não se exigiu que os bancos fizessem empréstimos, os contribuintes não ganharam representação nos comitês diretores das instituições, a indústria financeira gastou parte substantiva do dinheiro fazendo lobby contra a nova legislação bancária, e os cidadãos comuns receberam pouca ou nenhuma ajuda com suas hipotecas. Então é fácil entender o sentimento de injustiça que motiva os protestos. Na verdade, a indignação com o “bailout” contribuiu não só para o movimento Ocupem Wall Street, mas também para a ascensão do Tea Party. Embora o Tea Party seja um movimento de direita — favorece o livre mercado e quer reduzir o papel do governo —, ele também foi impulsionado em parte pelas críticas à ajuda do governo a Wall Street.

Você já convidou outro professor de Harvard, o economista conservador N. Gregory Mankiw, para debater em seu curso os limites morais dos mercados. Esse é o tema de seu próximo livro, não? Quais seriam esses limites, na sua opinião? Como as categorias morais podem ser aplicadas à esfera econômica?

Ao longo dos anos, convidei vários economistas para debater os mercados e a moralidade, como Mankiw e também Richard Posner, juiz federal e professor de Direito da Universidade de Chicago que fundou o movimento da “análise econômica do direito”. Também já dei um curso com Larry Summers [secretário do Tesouro americano na presidência de Bill Clinton] chamado “A globalização e seus críticos”, que se tornou um vigoroso