Resenha: O lugar Mítico da Memória
A Teogonia é a origem dos deuses, como nos narra Hesíodo. Primeiro surgi Gaia (a Terra), seguido de Urano (o Céu), e daí permite-se gerar infinita descendência. Entre os seres mais fantásticos estão os Titãs. Mnemósine é a Titânida que representa a memória e Cronos, que havia destronado o pai déspota para instaurar um reinado mais déspota ainda, representa o tempo. Zeus destrona Cronos em uma batalha memorável e se une à Mnemósine por nove noites para celebrar, dando origem, entretanto, às Nove Musas. As Musas cantoras presidem as várias formas de conhecimento, quais são: sabedoria, eloquência, matemática, história, persuasão, astronomia. Revela o mito, portanto, que da batalha entre a memória (representada por Zeus) e o tempo (Cronos), nasce a história (Clio, uma das Musas) que através do canto das Musas, regido por Mnemósine, revela e presentifica o Mundo.
O museu, templo das Musas, lugar em que residem, caracteriza o adestramento das artes, as quais permitem, através da audição do canto das Musas, ao homem comum quebrar as barreiras e os limites de suas possibilidades físicas de movimento e visão e transcender suas fronteiras geográficas e temporais para contemplar fatos, figuras e mundos que pelo poder do canto se tornam audíveis, visíveis e presentes. A própria Cosmogonia se inicia pela invocação das Musas, tendo em vista que a Mnemósine mítica está presente desde a primeira geração divina, desde o início de tudo, deixando claro que o canto das Musas revela os diferentes níveis de ser: desde o surgimento da Terra e do Céu, da batalha dos Titãs, até o mundo como se apresenta sendo esse canto, destarte, a revelação e conhecimento do mundo.
O “mito” significa a “revelação do ser” e não sua conceituação, e a recordação em sentido mítico representa o resgate e a re-atualização de um momento originário para torna-lo eterno, contrapondo à idéia de tempo como algo que passa e não existe mais. A memória, embora não seja mais a divindade