Resenha a morte Ivan Illitch
6250 palavras
25 páginas
A morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstói por Rodrigo Menezes.
“As doenças visitam os homens a bel-prazer, umas de dia, outras à noite, trazendo-lhes o sofrimento em silêncio, pois o sábio Zeus privou-lhes a palavra.” (Hesíodo)
Ainda bem, já que, mesmo sendo mudas, são atrozes, que dirá se fossem tagarelas?
É possível imaginá-las anunciando-se?
Em vez de sintomas, proclamas? Pelo menos uma vez Zeus se comportou com delicadeza.
Emil Cioran
O mineiro só é solidário no câncer.
Otto Lara Resende
O derradeiro homem [...] há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Machado de Assis
A morte de Ivan Ilitch (“Smiert Ivana Ilitchá”), de Lev Tolstói (1828-1910), é uma das obras-primas da literatura russa. Ivan Turguêniev (1818-1883), autor do romance Pais e Filhos, escreveu em 1883 a Tolstói, pouco antes de morrer: “Faz muito tempo que não lhe escrevo porque tenho estado e estou, literalmente, em meu leito de morte. Na realidade, escrevo apenas para lhe dizer que me sinto muito feliz por ter sido seu contemporâneo, e também para expressar-lhe minha última e mais sincera súplica. Meu amigo, volte para a literatura!”. Para a nossa sorte, foi isso mesmo o que Tolstói fez: após ter renunciado à vida literária e mundana para recolher-se à vida religiosa, contemplativa, acabou consentindo com o desejo do amigo e retomou a pena. O resulto é este livrinho magnifico: uma breve, mas, profunda, lição sobre a morte e a vida, sobre a frágil, a sublime condição humana.
Primorosamente traduzida por Boris Schneiderman (Editora 34), a novela narra os últimos meses, os últimos momentos de vida do personagem que dá o título ao livro, acometido, em razão de um acidente caseiro, trivial e aparentemente inócuo, de uma complicação que o faz sofrer – física, moralmente – até o limite do humanamente possível. Até a morte. Sabemos desde o início o que acontecerá no final da estória. O que não significa que já sabemos como será a experiência de