Resenha - a menina sem nome: um espaço de comunicação folk. josé xavier dos santos
No Cemitério de Santo Amaro, em Recife, inaugurado em 3 de março de 1851, um túmulo se destaca entre os muitos outros pelo número de visitantes. Nele está sepultada uma menina que há duas décadas foi encontrada por um pescador, estuprada e morta em uma praia urbana da cidade.
Além da brutalidade do crime hediondo, um detalhe chamou ainda mais a atenção do povo: ninguém apareceu para reclamar o corpo da criança brutalmente assassinada, e a criança abandonada, cujo nome não se conhece, foi sepultada, como indigente, numa cova comum.
Do fato à lenda e da lenda à devoção, não levou muito tempo. Sem que se saiba precisar exatamente quando, o túmulo começou a ser alvo da atenção da população e, com o passar do tempo, se transformou num verdadeiro espaço de devoção popular.
Uma ocorrência desta natureza não é tão somente do interesse da religiosidade popular, mas da folkcomunicação.
Folkcomunicação é, segundo a concepção de Beltrão, “o processo de intercâmbio de informação e manifestação de opiniões, ideias e atitudes da massa, através dos agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore”.
O túmulo, diferentemente dos demais, foi arquitetonicamente adaptado para o tipo de atividade que se desenvolve ao seu redor. Ao lado do túmulo, foi construído um queimador de velas e todo o túmulo está circundado por uma área cimentada, suficiente para acomodar mais de uma dezena de pessoas por vez.
As “lembranças” que os devotos da “menina sem nome” depositam em seu túmulo são claramente aquilo que Luiz Beltrão chamou de “linguagem e canais familiares à audiência”. Tais ex-votos se distribuem em dois grandes grupos: a) os de comunicação escrita; e b) os de comunicação artesanal.
No primeiro grupo estão todos os tipos de lembranças impressas ou escritas a mão ou por outros meios mecânicos, dentre elas, destaca-se uma oração padronizada, na qual o devoto