Resenha - zygmunt bauman
Nas décadas de 60 e 70, o capitalismo estava sendo contestado de todos os lados. Além das greves freqüentes, estudantes e minorias se rebelavam e articulavam, no discurso e na prática, a miséria do cotidiano – preconceitos, sexualidade restrita, vida tediosa e programada – às exigências de uma ordem capitalista. E diante da crua realidade do “socialismo”, o direito de ser diferente dos outros e de si mesmo tornou-se modo de permanecer revolucionário apesar das notícias amargas sobre os resultados das revoluções. A partir da década de 80, porém, o capitalismo ressurge triunfante, sem adversários, sejam estes reais ou postulados. A concentração de renda aumenta, o desemprego torna-se endêmico e a fome se espalha pelo mundo; mesmo assim, a crítica se cala. Pior, o direito à diferença torna-se receita de livro de auto-ajuda. No final do século XX e início do XXI, sociólogos de diversos matizes são obrigados então a se colocar três questões: que nova sociedade é esta? Que tipo de discurso crítico é preciso construir? Que responsabilidade o discurso do direito à diferença pôde ter no esvaziamento recente da crítica ao capitalismo? Essas questões formam o horizonte do novo livro de Zigmunt Bauman, Modernidade Líquida. Bauman é um ensaísta prolífico; a cada ano, nos deparamos com um novo título seu nas estantes. A singularidade de Modernidade Líquida é que, nele, Bauman não se limita a coletar signos e conceituar a distância entre o presente e nosso passado recente; preocupa-se também com a atualidade dos discursos críticos próprios da época moderna, discursos que de início questionaram a ordem social tendo em vista a possibilidade e a necessidade de uma nova e boa ordem a ser construída no futuro, mas que, depois, passaram a se inquietar com as ameaças implícitas à liberdade individual na imposição por alguns de sua visão do bem. O livro, como sugere seu título, parte da mensuração da proximidade e distância entre o presente e o passado recente.