Resenha: Vigiar e Punir
O monopólio da coerção é uma das bases e condições para o surgimento do estado moderno. Não é difícil percebê-lo vivendo numa sociedade onde o medo impera e as forças policiais patrulham dia e noite à procura de delinqüentes e infratores; onde a prisão é uma instituição consolidada; onde o poder se exerce de maneira invisível sobre todos os membros da sociedade; onde tudo é normalizado e contado, disciplinado e domesticado. Entretanto, as coisas nem sempre foram assim. Houve tempos em que o poder tinha sua representação total na figura do soberano, tempos em que toda organização social se incorporava nesse homem, que exercia o poder de punir de uma maneira muito diferente da que conhecemos hoje. Como, então, passou-se desse poder de punir do soberano para a modalidade que conhecemos hoje? Como funciona o novo poder? Quais são seus fundamentos? Essas são algumas das questões colocadas pelo livro Vigiar e Punir de Michel Foucault.
O livro é dividido em quatro partes (suplício, punição, disciplina e prisão), divisão e ordem que não são repetidas neste trabalho. O primeiro item do trabalho trata do suplício e da forma antiga do poder de punir. O segundo apresenta a reforma que substituiu esse poder e, na seqüência, o terceiro fala do tipo de punição idealizada por essa reforma. O quarto item analisa as prisões, a forma de punir que se instalou mais amplamente após a reforma; e o quinto trata da sociedade disciplinar que aparece como base para a difusão das prisões. O sexto item apresenta o panoptismo, um princípio intimamente ligado à sociedade disciplinar. Por fim, a conclusão procura vislumbrar, tendo em vista os conceitos de Foucault, possibilidades de luta contra os sistemas penais.
O suplício
A primeira parte do livro, intitulada Suplício, dedica-se a analisar o funcionamento do sistema punitivo caracterizado pelo poder do soberano. A primeira e principal característica que Foucault aponta desse sistema é o suplício, o exercício do poder de