Resenha Transamérica
O questionamento da família normatizada e da sexualidade em Transamérica
A partir do filme Transamérica (Transamerica, Duncan Tucker, 2005, EUA), procuramos, aqui, analisar e relacionar as noções de família, sexualidade e funções de gênero veiculadas e problematizadas. Este filme do circuito independente americano teve ampla repercussão, tanto nos Estados Unidos como no mundo; a atriz Felicity Huffman, que interpreta a personagem principal do filme, ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz e concorreu ao Oscar nesta mesma categoria. O filme, escrito pelo também diretor Duncan Trucer, conta a história de uma transexual, Bree (Felicity Huffman), que ao receber a ligação do filho que não sabia que existia, e que procura por Stanley, pois está preso em Nova York por prostituição e porte de drogas, empreende uma viagem para resgatá-lo da prisão e construir uma nova forma de relação com o filho, superando a tradicional divisão de papéis por gênero, já que ela é uma mulher que é pai.
Esse filme pode ser considerado um roadmovie, uma categoria de filmes onde a viagem é entendida como uma metáfora da vida, em que as personagens realizam, concomitantemente, uma viagem concreta e uma viagem existencial, de autoconhecimento (NAZÁRIO, 2005, p.227). A partir disso, o filme procura enfatizar o conflito da personagem Bree, uma transexual, e de seu filho Toby (Kevin Zegers), buscando assim questionar e desconstruir a noção de família enraizada no imaginário ocidental. Segundo Fabíola Rodhen (2003, pp.34-35), a família é a célula central da sociedade, assim, as relações estabelecidas no seio da família (heterossexual) impõem papéis masculinos e femininos, que devem ser seguidos e que estruturam, assim, o imaginário e a organização da vida social. Essa noção de família implica uma heterossexualidade, que é a considerada “normal”, normatizada e legitimada, estando associada, ainda, à procriação. As características ideais da família ocidental que, de