Resenha sobre o filme Palavra Encantada
O filme ‘Palavra Encantada”, traz logo na sua abertura um grande nome da MPB, Adriana Calcanhoto, que entoa os versos de uma canção medieval francesa Chanson Doil Moz Son Plan et Prim, num resgate aos trovadores provençais. Palavra Encantada conquista os espectadores porque trata do tema sem usar de muitas regras de didática e não toma partido de nenhuma corrente de pensamento.
O documentário busca, por meio de uma série de depoimentos, discutir a relação entre poesia e música.
Letra de música é poesia? Adriana Calcanhoto evita entrar nessa discussão. O tema é provocante... Outro grande nome da MPB, Chico Buarque, que aparece no filme, recorda que o poeta João Cabral de Melo Neto, inicialmente não acolheu a idéia de ter os versos de ‘Morte e vida Severina’ musicados por ele que, à época, não era músico experiente.
O que se percebe no conteúdo dos depoimentos, é que o Palavra Encantada nos dá um bom panorama da evolução da poesia na música brasileira. Chico Buarque cita Cartola para mostrar o valor da obra de muitos compositores que não têm formação literária, são pessoas simples dos morros cariocas que tem na intuição, o produto do seu trabalho.
Uma conclusão a que se pode chegar ao assistir o filme, é que a música feita no morro perdeu seu viés poético por causa da violência, descambando para o funk e o rap. Por sua vez, os defensores destes estilos musicais, especialmente o rap, se defendem fazendo associação ao cordel que encontra defesa também em Arnaldo Antunes.
Infelizmente o filme não abriu espaço para dar voz aos repentistas, porém, merece louvor por destacar a função do tropicalismo como um divisor de águas das tradições poéticas na canção brasileira. O uso da liberdade poética conquistada pelos tropicalistas beneficia até hoje os compositores.
O desfile de grandes nomes da MPB pelo documentário continua com depoimentos e interpretações de Lenine, Antonio Cícero, Maria Bethânia... Vale o registro para a