Resenha - Situação de Macunaíma
Em seu texto Situação de Macunaíma, Alfredo Bosi estuda as motivações de Mário de Andrade ao escrever uma obra que é inovadora estilisticamente mas que também se apresenta como uma reflexão sobre o povo brasileiro, se valendo de inúmeros argumentos para embasar sua teoria.
O autor começa falando do caráter paradoxal do título da obra “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”, que o leva a inferir que o autor possuía duas motivações – lúdicas e estéticas – ao escrevê-la, que se entrecruzam. Bosi, então baseia nelas sua interpretação. São as motivações, pois: contar a história de um ser “mítico e lendário” através de esquemas clássicos, baseando-se em novelas de cavalarias, e, ao mesmo tempo, com um “desejo de pensar o povo brasileiro”. De acordo com o autor do texto, a obra também traz “o roteiro estético e ideológico de Mário”, bem como mostra referências de valores e signos do período contemporâneo à Mário, a República Velha.
Em seu texto, Bosi também irá dizer que não existem equivalentes para Macunaíma na literatura brasileira. Nesta obra há uma quebra gritante do espaço e do tempo, numa tentativa de Mário de levar sua obra ao “último grau do pensamento onírico”, transcendendo o realismo, o que é influência clara das escolas modernistas, que visam a velocidade, o inconsciente, o princípio da libertação dos moldes arcaicos do fazer literário, mas que, no entanto, também vemos influências de outros gêneros na obra. Mário de Andrade, segundo o autor, vai se basear nos moldes das novelas de cavalaria para compor sua obra, fazendo, porém, uma carnavalização de seus valores, construindo um herói de caráter dúbio, completamente oposto aos heróis das antigas novelas de cavalaria. A estrutura narrativa, porém, se adapta aos moldes cavaleirescos. Neste sentido, classificação da obra também é comentada por Bosi, que, para tanto, se vale do termo usado pelo próprio Mário de Andrade para se referir a sua obra: “poema herói-cômico”. Ele