resenha Ricardo Silva
resenhas
Democracia e República plebeia
John P. McCORMICK. Machiavellian democracy.
Cambridge, Cambridge University Press, 2011.
252 páginas.
Ricardo Silva
Completados 500 anos da composição de O
Príncipe (1513) e do início da redação dos Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio – os Discorsi (1513-1519) –, o pensamento político de Maquiavel continua a ser objeto de vivo interesse dos teóricos da política. A despeito das inúmeras análises e interpretações já realizadas sobre o mestre florentino, suas ideias continuam estimulando alguns dos movimentos mais inovadores no debate teórico contemporâneo, a exemplo do recentemente publicado Machiavellian democracy, de John P. McCormick, professor de teoria política da Universidade de Chicago. Fruto de prolongada investigação sobre o pensamento político e constitucional de Maquiavel, o livro consolida e expande a interpretação prenunciada pelo autor em uma série de artigos e ensaios publicados ao longo da última década.
A contribuição de McCormick guarda uma relação tensa com a corrente interpretativa protagonizada por autores como Hans Baron (1961), J.
G. A. Pocock (1975), Quentin Skinner (2002) e
Maurizio Viroli (1998), defensores do restabelecimento da identidade republicana do pensamento de Maquiavel (Silva, 2010). Compreendendo-o como herdeiro direto do republicanismo clássico e principal fonte de inspiração do republicanismo moderno e contemporâneo, esses autores se insurgiram contra a visão que retratava o florentino como uma espécie de conselheiro de tiranos e “professor do mal” (Strauss, 1958). Embora considere a interpretação neorrepublicana de Maquiavel superior à interpretação tradicional, McCormick critica os autores supracitados por subestimarem a importância que o autor dos Discorsi atribuía aos setores populares e suas magistraturas na constituição e manutenção da liberdade pública. Ao não questionarem a suposta conformidade de Maquiavel com um conjunto de princípios refratários ao poder da