Resenha: Holocausto Brasileiro (Daniela Arbex)
Segundo dados oficiais, pelo menos 60 mil pessoas morreram por trás dos muros do Colônia. Boa parte dessa gente era indesejável para alguém e invisível para a maioria. Muitos sequer tinham doença mental ou recebiam diagnóstico adequado. Bastava não se encaixar na norma estabelecida por uma sociedade eugenista (o hospício foi fundado no começo do século XX), como os muito tímidos, as mães solteiras, os gays, os alcoólatras, os indigentes, as esposas inconvenientes, que era confinado no hospício até a morte. As fotos que ilustram o livro fizeram parte de uma reportagem-denúncia de O Cruzeiro
Tirar esses 60 mil mortos e os poucos sobreviventes da invisibilidade é justamente a proposta da obra. E nesse aspecto, o livro cumpre com grande êxito a missão de preservar a memória do circo de horrores que boa parte dos manicômios representaram ao longo da história não só em Minas ou no Brasil, mas no mundo todo. Além de incomodar (no sentido de sacudir estruturas), Holocausto Brasileiro é doloroso, quase escatológico (mas não gratuitamente) e angustiante. Uma leitura tão necessária quanto infernal.
O velho julgamento “do livro pela capa” pode lançar suspeita sobre o emprego da palavra grega holocausto, usada para se referir ao massacre dos judeus na II Guerra. Mas o Colônia era, sem exagero, um campo de concentração em toda a sua perversidade. Os pacientes viviam na mais completa indigência, nus, famintos, torturados física e psicologicamente, tratados com choques elétricos, brutalizados e abandonados não à própria sorte, pois se deixados por conta própria jamais iriam