Resenha - Entrevista com Franco Basaglia e Helena Jobim
Franco Basaglia destacou-se na reforma psiquiátrica italiana por promover
uma crítica radical à relação de tutela e custódia do louco, estabelecida pelo saber
psiquiátrico. Sua oposição a tal sistema resultou na implantação da “Lei Basaglia”, em
1978, que aboliu com a instituição manicomial e internalização hospitalar de “doentes
mentais”, possibilitando o retorno dos mesmos ao convívio social.
Na entrevista intitulada Porque Tóxicos Basaglia responde a perguntas
relacionadas ao uso de drogas, expressando sua visão sobre tal tema. De acordo
com ele, o uso de drogas deve ser encarado não como uma desigualdade por parte
dos usuários, mas apenas como um fenômeno de diversidade social. A desigualdade
consistiria em uma forma de defesa, adotada pela sociedade, que resultaria em
discriminação e criminalização dos usuários, tratando-os como pessoas desviadas que
não conseguem se adaptar à realidade. Ao agir dessa maneira, a sociedade reforçaria o
problema, criando medidas repressivas, que impedem o enfrentamento da situação em
suas causas originais. Basaglia enfatiza que o aumento do número de internações de
dependentes químicos em manicômios, pode ser explicado pelo descaso em procurar se
entender quais as necessidades dos “drogados”, os motivos pelos quais eles se drogam e
as “não respostas” da sociedade.
Basaglia ressalta que o médico não estabelece nenhum vínculo social com o
doente, portanto, a relação entre ambos é reduzida a uma intervenção orgânica geral.
Essa relação restrita entre o “técnico orgânico” e o paciente não permite a resolução das
causas que geraram a dependência, causas que se encontram além do plano orgânico, no
plano social. Tal atuação é comparada ao tratamento dado aos doentes mentais.
Por meio desta entrevista, é possível verificar uma associação direta,
estabelecida por Basaglia, entre os males mentais e os males da