Resenha do Livro Império - Negri
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A crise da modernidade tem desde o início uma relação íntima com a subordinação racial e a colonização. O Estado-nação é uma máquina que produz “Outros”, cria diferenças raciais, ergue fronteiras que delimitam e sustentam o sujeito moderno da soberania. O oriental, o africano, o ameríndio são todos componentes necessários da base negativa da identidade européia e da soberania moderna como tal.
A humanidade é Una e diversa
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O gosto da diferença e a crença na liberdade universal e na igualdade dos seres humanos, próprios de pensamento do humanismo da renascença, reaparecem aqui em escala global. Esse elemento utópico da globalização é o que nos impede de simplesmente cair de volta no particularismo e no isolacionismo, em reação às forças totalizantes do imperialismo e da dominação racista, induzindo-nos, em vez disso, a forjar um projeto de contraglobalização, de contra-império. Este momento utópico, entretanto, nunca deixou de ser ambíguo. São tendências que constantemente entram em conflito com a ordem soberana e a dominação. Vemos três expressões exemplares desse utopismo, em toda a sua ambiguidade, no pensamento de Bartolomé de Las Casas,
Toussaint L’ouverture e Karl Marx.
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Bartolomé de Las Casas testemunha, horrorizado, a barbárie dos conquistadores e colonizadores, e a escravização e o genocídio dos ameríndios. Esses viram os ocupantes do novo mundo como o “Outro”, abaixo dos seres humanos, ou pelo menos naturalmente subordinados aos europeus. Então nasce o protesto de Las Casas de um princípio simples: a humanidade é uma e a mesma. Porém Las Casas não pode enxergar além da visão eurocêntrica da América, na qual o ponto mais alto da generosidade e da caridade seria colocar os ameríndios sob o controle e tutela da verdadeira religião e de sua cultura.
“ A natureza do homem é a mesma, e todos são chamados por cristo da mesmo maneira”.
Las Casas pertence ao discurso que se estende até bem dentro