Resenha do livro Discurso e Leitura
Por: Samara Ruas
Eni Orlandi, em “Discurso e Leitura”, aborda a leitura sob uma perspectiva discursiva. Ressaltando o caráter polissêmico da noção de leitura, a saber, atribuição de sentidos, leitura de mundo, aparato teórico e metodológico de aproximação de um texto ou aprendizagem formal - a autora sinaliza o seu recorte em torno do tema: a ideia de interpretação e compreensão. Em linhas gerais, os pressupostos que subjazem as suas ideias são: a possibilidade de que a leitura seja trabalhada, não ensinada; a leitura (e a escrita) como processo de instauração de sentido; o entendimento de que o sujeito-leitor tem as suas especificidades e sua história; e a multiplicidade dos modos de leitura. A autora se valida de um arcabouço lexical, imprescindível para a compreensão dessas mesmas ideias. Sendo assim, é de fundamental importância a compreensão de determinados conceitos desenvolvidos ao longo do texto, tais como o de legibilidade (p. 9), historicidade (p. 10), a diferença entre leitor virtual e leitor real (p. 11), incompletude, implícito e intertextualidade (p. 12; 29), leitura parafrástica e leitura polissêmica (p. 25).
Já no primeiro capítulo, Orlandi delimita de uma maneira bastante generosa o quadro teórico a partir do qual lançará as bases de suas propostas: a análise do discurso. Essa preocupação é, sem dúvidas, no mínimo necessária, tendo em vista os diferentes públicos leitores de seu trabalho. Com sorte, a autora recupera a posição de Saussure (1962), segundo quem “o método determina o objeto”. Outro aspecto favorável à melhor compreensão e situação de sua linha de pesquisa e propostas se dá pela breve explanação que faz acerca dos estudos linguísticos, associando-os aos respectivos pressupostos da filosofia da linguagem. Ao apresentar o objeto de estudo da análise do discurso, a autora pontua elementos cruciais: busca “tratar dos processos de constituição do fenômeno linguístico e