Resenha do filme: o enigma de kaspar
Kaspar Hauser, desde a mais tenra idade, foi privado do convívio social. A partir daí sua triste trajetória nos aponta muitos resultados obtidos por sua privação cultural, pelo não desenvolvimento de sua linguagem. O fato de ter vivido muito tempo isolado de outras pessoas (até mesmo seu alimento era deixado à noite, quando dormia) trouxe a Kaspar Hauser graves conseqüências em sua formação como sujeito, como indivíduo. Quando Kaspar é retirado do cativeiro e mesmo muito tempo depois, já com a linguagem desenvolvida é possível perceber através de seu olhar atônito, o espanto, o estranhamento frente à paisagem, frente às pessoas e suas reações. Através do filme podemos fazer uma reflexão sobre o papel da cultura, o papel da linguagem em vários aspectos. Para Kaspar Hauser todas as frases são vazias de significado porque não viveu e experiência da linguagem nas relações intersubjetivas. A única exceção a princípio era a palavra cavalo que, para ele, tinha algum significado porque um cavalinho de madeira era sua única companhia no cativeiro. O vazio de significado que as frases têm para ele comprova ou demonstram de algum modo o que Habermas postulou a partir da virada lingüística e pragmática e refuta a idéia cartesiana sobre a apreensão mental do conhecimento e a desvinculação do homem em relação aos outros para chegar a esse fim. Se a teoria de Descartes se confirmasse, Kaspar conseguiria saber de todas as coisas, pois o mundo poderia ser conhecido sem a dependência de uma relação com ele ou com os outros homens. O processo vivenciado por Kaspar vai de encontro à visão de Habermas porque exemplifica parte das idéias que este último postulou acerca da individuação. Se pensarmos no conceito de insubstituibilidade no processo de individuação, podemos afirmar que Kaspar se sente insubstituível? Pelo menos a princípio, não. Não sabia, no começo, dizer nada de si mesmo. Mais tarde, com o