Resenha do filme Porto das Caixas
Glauber e Bernardet possuem estilos críticos marcadamente distintos. Enquanto este possui uma escrita clara, analítica e de cunho sociológico, aquele tem como característica mais evidente a crítica personalista de quem também é cineasta e conhece não só o meio da sétima arte, mas seus realizadores. Glauber não poupa elogios e críticas aos filmes e diretores, ao mesmo tempo em que discute o caráter formal das obras. Seu olhar crítico é revisionista e tem por objetivo situar o Cinema Novo e sua própria produção dentro da linha evolutiva do cinema brasileiro. Por sua vez, Bernardet busca pensar o Brasil a partir da produção fílmica do país, compreendida entre os anos de 1958 a 1966, e em que medida estas obras revelam aspectos, tensões e impasses da sociedade brasileira.
Jean-Claude Bernardet nasceu na Bélgica em 1936 e veio para o Brasil com 13 anos. Aos 20 anos, começou sua formação informal em cinema frequentando a Cinemateca Brasileira em São Paulo. Lá conheceu Paulo Emílio Salles Gomes, importante crítico de cinema que escrevia no Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo. Na década de 1960, Bernardet torna-se um importante interlocutor do Cinema Novo, passando a escrever crítica cinematográfica em jornais. Em 1965, dá aulas na Universidade de Brasília e em 1967, torna-se professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. Afastado da Universidade de São Paulo pelo AI-5, retorna a ECA em 1979, instituição com a qual ainda mantém vínculo. Dono de uma formação autodidata calcada em leituras de filosofia, literatura e sociologia, mesmo sem ter concluído o ensino médio recebeu o doutorado