Resenha do filme "Memórias do Cárcere"
Relato da perseguição política sofrida pelo escritor, o romance autobiográfico de Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, narra fatos ocorridos durante a chamada Era Vargas, período marcado pelo debate entre as diversas correntes ideológicas que influenciavam a política brasileira. Inspirada pelas frentes populares criadas na Europa com o objetivo de deter o avanço do nazi-fascismo, surgiu a Aliança Nacional Libertadora (ANL), congregando democratas, tenentes, operários e intelectuais. Enquanto isso, destacava-se entre os grupos de direita a Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada por Plínio Salgado.
A década de 30 retratada pelo filme de Nelson Pereira dos Santos, precursor do Cinema Novo, é baseada no relato de Graciliano mas vai além das memórias do autor. A obra traz à tona um retrato social e cultural do Brasil durante as primeiras décadas do século XX. O cárcere serve como um microcosmos dentro do qual estão inseridos indivíduos que representam a pluralidade da sociedade brasileira. Durante o filme, diversos tipos são representados: o militar, o operário, o jovem, a mulher, o negro, o nordestino, o homossexual.
Publicado postumamente, em 1953, pode-se dizer que o livro antecipava o fim de uma importante fase da política brasileira, o fim do governo Vargas, um ano depois. Já o filme, lançado em 1984, nos remete não só àquele momento político anterior mas também a outro mais atual, de transição, o fim do governo militar em 1985.
Preso sem nenhuma acusação formal em 1936, Ramos foi vítima do enrijecimento do regime de Getúlio após a Intentona Comunista. Tentativa de golpe contra o governo, a revolta aconteceu em novembro de 1935 e, rapidamente sufocada pelo exército, serviu de pretexto para a aprovação de medidas antidemocráticas que suspendiam as liberdades individuais dos brasileiros. É difícil imaginar situação semelhante nos dias de hoje já que Graciliano era funcionário público e tinha um círculo de