resenha do filme Estamaria

RESENHA DO FILME
ESTAMIRA

Este filme relata a experiência de vida de uma mulher que viveu por mais de 20 anos no aterro Sanitário de Jardim Gramacho (RJ). Até certo ponto de sua vida ela fora uma mulher comum, com valores morais cristãos, acreditando em um Deus bom, protetor e coerente, mas quando a realidade do sofrimento e decepções pairou sobre sua cabeça desnudou todas essas suas fantasias morais e ilusões de um mundo que não mais existia, tornou-se uma pessoa sem "mundo". Ela inventa um mundo no qual vive do jeito que é possível: Solitária, revoltada, enraivecida, e sofrida, que prefere viver no meio do lixo como que esse fosse seu próprio e seguro mundo, pois acredita que, lá fora, é um lugar de violência, conspirações, barbaridades e falsidades onde cada um tem que ser seu próprio herói, seu próprio deus, seu próprio mito e seu próprio guia. Ela sofria de perturbações mentais, mas possuia uma mistura de lucidez e loucura a ponto de levantar de forma íntima questões de vida, Deus, trabalho e reflexões existenciais acerca de si mesma e da sociedade. Este documentário mostra como a insensibilidade e a falta de conhecimento imperam na sociedade, a ponto de excluir indivíduos, classificando-os como grupos minoritários desta sociedade, vetando sua participação como ser social com direitos e deveres. Estamira é uma pessoa questionadora e renega Deus por diversas razões, mal sabe ler e escrever, mas em boa parte do tempo que conversa, faz-se sã e completamente capaz de apontar problemas sociais como pessoas abusadas sexualmente sem suporte familiar; pessoas que necessitam dormir em longas filas na porta de escolas para conseguirem vagas para seus filhos; outras tantas que esperam meses por uma consulta médica, restando ao indivíduo a loucura, a fuga da dura realidade que massacra o sujeito onde, de um lado o Estado que impõe padrões de vida e de outro o mesmo Estado que não dá suporte às condições mínimas de existências do homem, do cidadão.