Resenha do filme crash
Há o caucasiano com preconceito em relação aos negros e latinos; há os negros com preconceitos dos brancos e dos próprios negros; há árabes (categorização que inclui, no filme, todos os muçulmanos, mesmo que a maioria islâmica do mundo não seja falante do árabe ou nascida na Arábia Saudita) com preconceito dos latinos; há os chineses, os porto-riquenhos, os tailandeses, os pobres, os ricos, os bandidos, os policiais e há mesmo aqueles que nem possuem classificação.
"Crash" demonstra, com um realismo surpreendente, que preconceito e discriminação não é um "privilégio" dos brancos burgueses, que todos nós, independentes de raça e classe social, já possuímos uma pré-compreensão do mundo que nos circunda e que é através dela que escolhemos nossos círculos de amizade, os ambientes que freqüentamos e as pessoas que costumamos evitar. Não se trata de algo racional, fundamentado em teorias eugênicas, mas sim a própria constituição nossa, enquanto seres humanos, de julgar o próximo e lidar com ele através deste julgamento.
Há um desamparo terrível nesta constatação, como se, para esta falta de tolerância, não houvesse solução. Mas a arte - mesmo que não tenha de possuir esta atribuição - é um modo de voltarmos nosso olhar sobre nós mesmos e percebermos que também fazemos parte deste ciclo de ódio, que, se um filme como "Crash" existe, é porque nós permitimos e, mais do que isto, contribuímos que para chegássemos a este ponto.
Acredita-se que o filme de Haggis simboliza a América pós-11-de-setembro. Nada mais equivocado do que isto. O filme de Haggis simboliza a humanidade, desde seus primórdios pré-históricos até hoje. Nossa época, longe de ser a fundadora do preconceito, apenas o acentua dia após dia.
“Crash” retrata a cidade de Los Angeles no Estado da Califórnia (EUA), uma das mais multiculturais do mundo. A história dos