Resenha do conto Uma Branca Sombra pálida
por Gabriela Rocha
Telles, Lygia Fagundes (1995). “Uma branca sombra pálida”. Em A noite escura e mais eu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
O conto “Uma branca sombra pálida” da autora Lygia Telles é uma espécie de fluxo de consciência que vem à tona na cabeça de uma mãe frente ao túmulo de sua filha. E no desenrolar da história a narradora revela vários outros personagens, presentes nas lembranças.
Logo na primeira linha, do primeiro parágrafo, a apresentação das personagens centrais da história: Gina, que está enterrada e Oriana. São apresentadas por uma terceira personagem, uma narradora autodiegética. Nota-se o tom de irritação na voz da narradora, que aparenta perder o controle dos pensamentos.
Seu fluxo de consciência aproxima o leitor da personagem que narra a história e acentua o caráter de perturbação de seus sentimentos. Está confusa e às vezes não sabe dizer o que realmente aconteceu no seu relato. O tempo na sua narração é totalmente não-linear, uma vez contando do dia da morte da filha e logo depois da sua primeira comunhão. Com essa narrativa fragmentada fica difícil digerir as referências apresentadas.
A narradora entrega aos poucos as informações ao leitor, de forma espontânea. Descobre-se que Gina se matou e que tinha apenas vinte anos. Morreu em um domingo de páscoa. Que tinha uma relação próxima com seu pai, mas que também morreu. E a relação de Gina com Oriana que poderia parecer ambígua no começo do texto, mas se esclarece, não restando dúvidas de que possuíam um relacionamento homo-afetivo.
Sobre essa ambiguidade, é possível usar como exemplo duas passagens distintas do texto, uma na página 170 quando a narradora usa o termo “se retorcendo de aflição e gozo” para expressar o que escutava através da porta do quarto da filha, a palavra “gozo” não foi usada à toa. Depois, na página 178, comenta de novo sobre os sons ouvidos através da porta, agora explicitando o caráter sexual da situação “lembrei