Resenha de The man who shot Liberty Valence

A história do filme se passa no Velho Oeste em uma pequena cidade chamada Shinbone. Apesar de se tratar de uma história com um lado romântico (constituído pelo triângulo amoroso formado por Doniphon, Stoddard e Hallie), o aspecto mais interessante do filme é a contraposição de diferentes concepções de lei e direito. O antagonista Liberty Valance representa o direito natural hobbesiano, o direito de se exercer a força afim de se conquistar o que se deseja, mesmo que isto inclua a violação da liberdade de outrem. Ele é temido por todos e conquistou o respeito que possui por meio da disseminação do medo. No início da história, ele entra em conflito com o personagem principal e herói Ransom Stoddard quando assalta a carruagem em que ele está viajando. Formado em direito e pertencente a uma cidade em que as leis obedecidas são as do Estado e da Constituição americana, Stoddard se revolta com o modo como Liberty resolve as coisas. Stoddard representa o direito positivo, constitucional. Uma noção de direito mais kantiana. Assim sendo, ele busca revolucionar a cidadezinha pelos meios legais que ele conhece, recusando sempre as sugestões que lhe são feitas de usar a violência. Stoddard é informado repetidamente de que seus livros não terão qualquer eficácia contra o poder da arma de Liberty, mas o herói não quer dar o braço a torcer: vai conquistando a confiança de todos da cidade enquanto dá aulas de leitura, escrita e cidadania. Outro personagem extremamente relevante para a trama é Dutton Peabody, o diretor, redator e editor do jornal local. Incentivado por Stoddard a publicar matérias que vão contra a vontade de Liberty, ele se torna um importante combatente público do criminoso, o que quase lhe custa sua vida, mas não mata seu discurso sobre liberdade de imprensa. A história se passa em um contexto de eleições, período normalmente negligenciado pela maior parte dos habitantes da cidade, que não vêem a legalidade como uma forma de combate às injustiças que