Resenha de "Caçada"
Em meio a um ambiente árido e violento, Fernando Vilela consegue extrair poesia e solidariedade das relações humanas em seu livro Caçada (Scipione, 2012), o décimo terceiro escrito e ilustrado por ele. A história se passa durante uma guerra e mostra o dilema enfrentado por dois militares inimigos.
Valendo-se de seu talento como artista plástico, o autor faz de suas ilustrações verdadeiras obras de arte. Não à toa, muitas delas são exibidas em galerias e museus, como é o caso deste livro, que foi tema de exposição em 2011, com xilogravuras de aviões de guerra — na última página de Caçada, veem-se quatro fotos de uma das instalações. As imagens apenas em preto e vermelho dão o tom da trama, que envolve violência, raiva, sangue, escuridão, melancolia. O formato horizontal do volume contribui para a valorização das ilustrações, mostrando a amplidão do deserto, da solidão, dando-lhes mais impacto. De qualquer forma, em termos de narrativa, o texto verbal é preponderante, pois, em geral, as imagens reafirmam o que ele expressa. As duas exceções ficam por conta dos momentos cruciais da história, em que a ilustração toma toda a página dupla, sem uma única palavra para relatar o que aconteceu no desenrolar dos fatos.
Já na capa e na quarta capa, que formam um só elemento, a caçada do título é prenunciada, com o desenho de algo que passa em velocidade, repetido nas duas primeiras páginas do livro. Depois, o leitor descobre ser um caça, um avião que tem no nome a condição de predador. Mesmo com um tema complexo como o da guerra, a obra cria um vínculo com o público infantojuvenil ao apresentar, na trajetória dos dois protagonistas, uma conexão com a infância e suas brincadeiras. Valores universais como generosidade e compaixão permeiam o livro e fazem pensar que, se pode haver humanidade nas circunstâncias mais difíceis, não haveria, então, espaço para ela nas situações do cotidiano.