Resenha crítica do filme "O Palhaço" de Selton Mello.

O PALHAÇO
Francisco Renato Alves LOURENÇO
Universidade de Brasília – UNB

De início, chama a atenção o que poderia se apresentar de novo em um filme que retrata a vida de um palhaço. E um filme permite isto; mostrar o que está além da trupe, da apresentação, da figura engraçada do palhaço. Contar, além das questões do dia-a-dia, neste mundo nem sempre maravilhoso, a crise existencial vivida pelo personagem central. Um filme onde é possível olhar além do que os olhos veem, pois no riso de um palhaço pode haver tristeza. Selton Mello é roteirista, diretor e ator nessa mesma produção e traz esse desafio, transformando o grotesco dia-a-dia de figuras cujo sinônimo de alegria já se cristalizou e abordar questões que acontecem a todo instante e em todo lugar. Conflitos, inadequações, dúvidas próprias do ser humano, como a sua identidade. Aí mora a questão. Transformar a crise em arte. Para o historiador de arte ERNEST HANS GOMBRICH (1978), “Nada existe realmente a que se possa dar o nome de arte. Existem somente artistas”. Que não é o resultado que deve ser entendido como produto de arte, mas o sujeito. O trabalho desta arte se inicia com todo o processo de pesquisa na constituição do filme. Na busca pelo cenário das gravações, no figurino, na iluminação. Nos pequenos detalhes que se constituirão a obra pronta. Inclusive no elenco. Nesse processo, ele vai a campo construir a identidade do seu personagem principal. Exigiu-se uma pesquisa e apoio de pessoas do meio circense e foi se inspirando a desenrolar essa história, como conta o próprio Mello:
“A pesquisa do universo circense foi vasta e enriquecedora, e de certa forma inspirou nossa escrita, fazendo com que a trama guardasse algum sabor dos melodramas arcaicos que eram apresentados em circos pelo país, no que se chamava circo-teatro”. (Mello, Selton. Roteiro do filme: O Palhaço. SESC, SP; Ouro sobre Azul, Rio de Janeiro, 2012. p. 8.) O filme conta a história de Benjamim, o palhaço pangaré, que