Resenha crítica do filme Freaks
Cibely Eugênia da Silva
Envolto em um cenário horripilante e por vezes risível, o circo onde trabalham pessoas e criaturas bizarras chama atenção pelo apelo negativo que faz ao contrapor as ações grotescas das pessoas às atitudes humanas das criaturas, que são conhecidas como freaks. Clássico do terror datado de 1932, dirigido e produzido por Tod Browning, segundo consta na literatura fílmica, a história da trapezista interesseira chamada Cleópatra que planeja o assassinato do marido Hans não vingou e o filme mostrou-se um tremendo fracasso.
No entanto, o que a crítica da época não pôde perceber é que o filme traz uma grande lição de vida para todos que assistem e o ditado popular “as aparências enganam” vive por meio das cenas em preto e branco. As criaturas bizarras, deformidades e anomalias humanas, como são chamados alguns dos personagens do circo, são pessoas que merecem respeito e têm sentimentos bondosos em oposição a Cleópatra, trapezista bela, e Hércules, que são os astros do circo e pessoas profundamente más. Segundo Martinho, 2009, p.261:
O monstro é a figura essencial, em torno da qual as instâncias de poder e os campos de saber se inquietam e se reorganizam. No direito romano, que evidentemente serve de pano de fundo para toda essa problemática do monstro, distinguiam-se com cuidado, se não com clareza, duas categorias: a categoria da deformidade, da enfermidade, do defeito (o disforme, o enfermo, o defeituoso, é o que chamavam de portentum ou ostentum), e o monstro, o monstro propriamente dito.
Há uma clara separação entre as personagens do filme. As deformidades aparentes não fazem uma relação direta com as ações. Se por um lado há pessoas com deficiência física, esta não faz com que elas sejam percebidas como monstros. “As aberrações” do circo são pessoas doces e de ações extremamente humanas. Há uma ideia de coletividade profunda nas relações entre as pessoas do circo, o que mostra que ali