Resenha crítica: Cálice - Chico Buarque
Cálice - Chico Buarque
Pai, afasta de mim esse cálice (3x) / De vinho tinto de sangue / Pai, afasta de mim esse cálice (3x) / De vinho tinto de sangue / Como beber dessa bebida amarga / Tragar a dor, engolir a labuta / Mesmo calada a boca, resta o peito / Silêncio na cidade não se escuta / De que me vale ser filho da santa / Melhor seria ser filho da outra / Outra realidade menos morta / Tanta mentira, tanta força bruta / Pai, afasta de mim esse cálice (3x) / De vinho tinto de sangue / Como é difícil acordar calado / Se na calada da noite eu me dano / Quero lançar um grito desumano/ Que é uma maneira de ser escutado / Esse silêncio todo me atordoa / Atordoado eu permaneço atento / Na arquibancada pra a qualquer momento / Ver emergir o monstro da lagoa / Pai, afasta de mim esse cálice (3x) / De vinho tinto de sangue / De muito gorda a porca já não anda / De muito usada a faca já não corta / Como é difícil, pai, abrir a porta / Essa palavra presa na garganta / Esse pileque homérico no mundo / De que adianta ter boa vontade / Mesmo calado o peito, resta a cuca / Dos bêbados do centro da cidade / Pai, afasta de mim esse cálice (3x) / De vinho tinto de sangue / Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado / Quero inventar o meu próprio pecado / Quero morrer do meu próprio veneno / Quero perder de vez tua cabeça / Minha cabeça perder teu juízo / Quero cheirar fumaça de óleo diesel / Me embriagar até que alguém me esqueça.
2.2.1 Comentários A música foi escrita no período ditatorial do Brasil. Traz elementos religiosos como metáfora para expressar a ideia recondita a cerca da ditadura, sofrimento, dor, falta de liberdade, tortura etc.
O termo "cálice" está para a ordem "cale-se", que é a falta de liberdade de expressão. O eu-lírico pede suplicante à uma força divina que afaste o "cálice", como uma analogia a súplica de Cristo antes de ir ao calvário. Metaforizar com imagem da paixão de Cristo remete a uma ideia de profundo