Resenha: becker - outsiders
RESENHAS
de identificação étnica. Sem dúvida, a etnicidade é situacionalmente definida e o Estado assume aí um papel incontornável, mas corre-se o risco de iniciar e findar a investigação no Estado, perdendo de vista nuanças das percepções dos grupos em busca de reconhecimento. Apesar de as questões a respeito das comunidades remanescentes de quilombos serem relativamente recentes e sinuosas – algo, aliás, demonstrado com muita propriedade pelo autor – Mocambo pode ser considerado um livro-síntese, pois enfrenta vários dos problemas em pauta sobre o tema e procede a um balanço crítico do que foi produzido até o momento. Arruti fornece interpretações originais para problemas permeados por ambivalências e contradições, redimensionando – e até mesmo inaugurando – uma série de questões, como a descrição das relações entre indígenas e quilombolas. Trata-se de uma obra que transita entre fronteiras e vai além delas, adentrando terrenos pantanosos repletos de questões controversas frequentemente dimensionadas com base em lugares-comuns e/ou definições operacionais.
BEckER, Howard S. 2008 [1963]. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar. 232pp.
cristina Patriota de Moura
UnB
Propor uma teoria interacionista do desvio: é este o principal objetivo de Howard S. Becker no livro Outsiders. Quarenta e cinco anos depois de sua primeira edição em língua inglesa, surge a primeira edição brasileira da já clássica obra do sociólogo norte-americano, que insiste em traçar sua genealogia a Everett
Hughes, Robert Park e William Thomas, entre outros grandes nomes da Escola de Chicago. O livro é um marco nos estudos sobre desvio, efetuando importantes deslocamentos de foco: da ideia essencializada de “crime” para o termo desvio, que supõe uma relação social; do foco no indivíduo para o foco nas relações, que produzem regras e exigem seu cumprimento; da naturalização das regras para a produção social das mesmas e os processos de imposição de