Resenha Assis Machado De A Causa Secreta Jonatas T B
Jonatas T. B.1
A crueldade humana no conto A causa secreta.
Ao levantar-se deu com o médico e teve um sobressalto.
Então, mostrou-se enraivecido contra o animal, que lhe comera o papel; mas a cólera evidentemente era fingida.
–- Castiga sem raiva, pensou o médico, pela necessidade de achar uma sensação de prazer, que só a dor alheia lhe pode dar: é o segredo deste homem.
Machado de Assis, 2005, p. 243.
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de
1839 e faleceu em 29 de setembro de 1908, também no Rio de Janeiro. No que diz respeito à fama e prestígio do autor, dispensaremos a pompa nesta apresentação. Ao longo de sua vida, Machado de Assis nos legou uma longa lista de crônicas, contos, peças, artigos jornalísticos, poesias, novelas, romances, críticas e ensaios, classificados com unanimidade como obras primas da literatura universal, o que não consideramos mera pompa, mas fato.
Uma das facetas do estilo machadiano é a análise do comportamento social que encobre e antagoniza a natureza humana. Podemos dizer que a leitura de Machado produz o efeito de espelho, através do qual o leitor não só participa como ouvinte, mas é posto frente às reflexões de sua própria “natureza”.
Em nossa leitura de “A causa secreta” trataremos de um dos pormenores desta “natureza” que se oculta sob as máscaras dos padrões de comportamento consolidado. Destacarei algumas partes interessantes do conto e faremos uma breve análise sobre a crueldade, representada no conto pelo misterioso personagem chamado Fortunato, no sentido inferido por Clément Rosset.
Cruor, de onde deriva crudelis (cruel) assim como crudus (cru, não digerido, indigesto) designa a carne escorchada e ensanguentada: ou seja, a coisa mesma privada de seus ornamentos (...) no presente caso a pele, e reduzida assim à sua única realidade, tão sangrenta como indigesta. (ROSSET, 2002, p. 17-18)
“A causa secreta”, publicado pela primeira vez