Resenha As ideias fora do lugar

No capítulo “As ideias fora do lugar”, do livro “Ao Vencedor As Batatas”, de Roberto Schwarz – crítico literário especialista na obra Machadiana -, publicado em 1977, o autor inicia o ensaio citando a descrição inserida em um panfleto liberal contemporâneo de Machado de Assis, onde se afirmava que “toda ciência tem os princípios que são originados dentro do seu próprio sistema, e um dos princípios da Economia Política seria o trabalho livre”. Nota-se, contudo, que o panfleto colocava o Brasil fora do sistema da ciência, pois o que predominava no país era a escravidão, caracterizada, à época, como um fato “impolítico e abominável”.
Segundo o autor – e conforme o título do ensaio sugere -, no Brasil as ideias estavam fora do lugar. Baseando-se na idéia de que o contexto social é o que dita a forma da literatura, Machado de Assis observou a grande contradição presente na sociedade brasileira: enquanto a estrutura era atrasada e colonial, a ideologia apresentava-se adiantada e liberal. E, “Comédia ideológica” foi a forma como Schwarz chamou essa contradição social, que, segundo ele, era de onde vinham as ironias de Machado de Assis.
De acordo com Schwarz, o discurso era incompatível com a realidade existente, pois o modelo econômico brasileiro era baseado na escravidão, impossibilitando a prática efetiva dos ideais liberais europeus – estes que não poderiam ser totalmente dispensados. Por aqui a independência era recente, realizada sob ideais de liberdade franceses, ingleses e americanos, os quais já faziam parte da identidade nacional. Porém, esse conjunto de ideologias chocar-se-iam com a economia escravocrata e seus defensores.

A colonização gerou três classes de população, todas baseadas no monopólio da terra: o latifundiário, o escravo e o homem livre – este último, ao contrário da definição, era totalmente dependente. A relação existente entre as duas primeiras classes era clara, e a terceira era interessante, pois não eram donos de terra, tampouco